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terça-feira, 30 de março de 2010

OSCAR CORDEIRO - Um herói que a nação esqueceu

Década de 30, ocupava a Presidência da Bolsa de Mercadoria e Futuro, um homem portador de grande intimidade com a mineralogia, capaz de identificar, sem grande dificuldade, qualquer pedra, resíduo de arenoso ou calcários que lhe trouxessem para análise. Seus conhecimentos geológicos eram de um a profundidade extraordinária. Seu nome: Oscar Cordeiro. De estatura abaixo da média, ele era comunicativo, atuante , e um pesquisador arguto. Em suas andanças pelos subúrbios de Salvador descobriu que alguns moradores das camadas mais pobres do Lobato, por falta de dinheiro para comprar querosene, vinha usando um óleo escuro que ali era encontrado, e o fato chamou-lhe a tenção.

Voltou várias vezes ao local para colher amostras de óleo, e começou a fazer ,seguidos testes durante muitos dias, e adquiriu a certeza de que ali, no Lobato, havia um lençol petrolífero, q que sua descoberta seria a redenção de um país que importava todos os derivados de petróleo. Vivíamos em pleno estado novo em 1937, era um regime arquitetado por Francisco Campos, baseado no fascismo italiano, e todas as leis do país passam a ser ditadas pelo arbítrio do seu dirigente, o ditador Getúlio Vargas. Tanto o poder legislativo como o judiciário não possuíam poder decisório.

OSCAR CORDEIRO preparou um relatório com todas as minudências e enviou para Getúlio Vargas. Mas depois de muita insistência foi nomeada uma comissão composta por cinco geólogos para que se estudassem a área do Lobato e emitissem parecer.

Evidentemente tal descoberta contrariava os interesses dos cartéis que dominavam o mercado dos produtos derivados de petróleo e por tal razão a comissão (já vendidos aos cartéis) em seus relatório dizia que na área do Lobato, só existia vestígio de xisto betuminoso, e não petróleo, e que Oscar Cordeiro era um visionário.

Para Vargas, valeu a opinião dos geólogos, e o assunto foi encerrado, mas despertaria a revolta de O.C, que decidiu lutar sozinho, contrariando os interesses das empresas distribuidoras dos derivados de petróleo, arriscando tudo.

Sabia das dificuldades que iria encontrar, porém não se atemorizou diante deles. Os meses se arrastavam na sua luta, sacrificou seus salários, tomou empréstimo a vários amigos para adquirir uma velha sonda de fabricação francesa, em 1938. Para sua montagem contou com o auxílio de um engenheiro francês, que se prontificou em ajudá-lo, e depois de meses conseguiu pô-la em funcionamento, e passou a trabalhar incessantemente na prospecção, custeando todas as despesas com enorme sacrifício, acompanhando dia-a-dia, a perfuração do poço.

No dia 21 de janeiro de 1939, o petróleo jorrava no lobato. Era a vitória do intemerato brasileiro.

Oscar Cordeiro, tomado de indescritível emoção não vacilou em perder o terno de linho branco irlandês que usava no momento, e tomou um banho do petróleo do Lobato, o “ouro negro” como era chamado, que poderia trazer a redenção de seu país.

O jornal “A Tarde” do dia seguinte, estampou a foto do histórico banho, que para O.C era o banho mais importante da sua vida. A sua tenacidade, seu vasto conhecimento, seu estoicismo, havia prevalecido contra o dúbio relatório que o chamava de visionário.

Agora pasmem os meus leitores!

Como ainda estávamos no Estado Novo e ainda havia um interventor na Bahia, integralista ( fascista brasileiro). Em seu primeiro ato, depois da descoberta do petróleo, foi interditar a área do Lobato e impedir a entrada de O.C, na área onde havia empregado todas as suas reservas, todo o seu esforço e parte de sua vida, como “prêmio” pelo seu extraordinário feito, foi demitido da Presidência da Bolsa de Mercadorias da Bahia, pelo crime de provar a existência de petróleo em nossa terra, apesar de ser considerado um visionário.

Seus conhecimentos geológicos garantiram sua sobrevivência, porque continuava procurado. Sofreu na pele a ingratidão daqueles que por dever, deveriam render-lhe homenagem, como bem feitor da Nação, e o réprobo que contrariou os interesses das multinacionais. Onze anos depois, caberia ao estadista e governador da Bahia, Otávio Mangabeira, amenizar a injustiça concedendo-lhe um prêmio como reconhecimento da Bahia, uma espécie de prêmio indenizatório no valor de CR$1.000.000,00, infinitamente pequeno para o mérito da descoberta, e que talvez não cobrisse tudo aquilo que ele havia empregado.

Não sei por que razão ver seu nome totalmente esquecido; pois eu pergunto a você que está lendo o ensaio se já ouviu alguma vez o nome do descobridor do petróleo brasileiro. Acredito que poucos sabem. A primeira refinaria construída em Mataripe, por justiça deveria chamar-se OSCAR CORDEIRO; mas foi denominada Landulfo Alves, com a alegação de que ele defendeu a estatização do petróleo brasileiro. Alegação do governo ditador fascista da época.

O nome Oscar Cordeiro diluiu-se com o tempo, e só agora você que está lendo este ensaio ficou conhecendo o herói que se tornou esquecido.

Texto do escritor FRANCISCO JOSÉ DE MELLO, publicado no jornal O GURARANY, março 2010.