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quinta-feira, 27 de agosto de 2015

TALVEZ EU SEJA O ÚLTIMO ROMÂNTICO ( PRÓLOGO DAS CARTAS)

 
  Eu acho que estou mesmo  ficando velho, acabo de fazer 36 anos. Talvez para quem tem mais idade isso pareça uma piada, mas pra mim que a pouco tempo atrás só tinha 18 anos e pensava com insegurança em enfrentar as crises da vida adulta, é uma situação apavorante o passar do tempo. Se é que há alguém que não se exaspere com a passagem do tempo. Frequentemente o susto vem quando temos um marco  temporal, uma pessoa que seja  referência  ou até mesmo o velho álbum de retratos.
     Mas não quero falar  dos medos que o tempo traz e que vão se somando a outros que você já tinha com menos idade. Quero falar da percepção do que se acaba com o avançar dos dias. Do que devia ser perene mas é tão inconsistente que se desfaz no tempo como lágrimas na chuva. Muitos não vão concordar mas o romantismo está reduzido à gestos tão pontuais e fugidios que parecem ocorrer por mera formalidade. Eu continuo acreditando que esteja mesmo acabando.
     É impossível comparações, e não são comparações com o que eu vi dos outros somente, mas do que eu mesmo criei e vivi. A perspectiva do possível preenchimento é o que nos faz continuar. E sinceramente, eu acredito que o mundo que criei pra mim agora é que não comporta romantismo, é um problema mais de contingência. Sendo que faço mea culpa,  deixo de reclamar do saudosismo e  sem falar do que sinto falta nestes tempos de amor tipo fast-food , passo a falar  de tudo que já vivi.
     Portanto, invertendo a lógica do que venho escrevendo, falo do que já tive e não do que sinto falta.
     Já tive coragem de namorar na chuva, beijos e abraços  que muitas vezes são impedidos (pelos sem coragem) por que a chuva tá fria ou há a possibilidade de se  resfriar. Tive música, lugar, cheiro, cor, filme,  banda. Tive carta encontrada no bolso de minha bermuda, bilhete de amor escrito no meu caderno do cursinho pré -vestibular. Tive um beijo que vale mais que sexo,  um abraço daqueles que dá vontade de guardar dentro de um baú de lembranças. Tive peça de roupa guardada só pra lembrar o cheiro, tive brinco esquecido por querer só pra poder ter o pretexto de voltar pra pegar. Tive pele arranhada por unhas, e  marcas  no pescoço quando não podia  ter. Tive medo de perder, de nunca  mais encontrar outra pessoa igual. Tive crise de desespero em plena madrugada por achar que um dia eu não estaria mais com Ela. Tive livros  iniciados inspirados em alguém, mas nunca terminados porquê com o fim do romance  foi-se também a inspiração.
     E só foi possível  recuperar muitas  dessas lembranças porque  minha mãe guardou cadernos, cartas e cartões, fotos, objetos e livros meus desde que eu  me mudei para Salvador a 18 anos e que encontrei casualmente em minha última visita a minha cidade natal Montanha-ES. Um mergulho na minha curta existência mas que mostra que idade não garante que os melhores momentos ainda estão por vir. Talvez estejam mesmo, mas meu passado é de dar inveja à alguns poemas de Drummond sem dúvida.
     Passo então sob o título "CARTAS" a  revisitar meus amores e desamores e postar numerada das mais antigas até as mais recentes algumas das lembranças em que guardei registro. Juntando as lembranças  conservadas por minha mãe, junto com outras que eu mesmo preservei já  vivendo em Salvador-Ba. Rabiscos de poesias,  contos, e-mails  e claro, a identidade verdadeira não  revelada. Obrigado Mãe!

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