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quarta-feira, 14 de outubro de 2015

SEMPRE HÁ UMA SAÍDA



      Já  desenhou um Sol nas calçadas, Janelas e portas em paredes ou tentou fazer um buraco pra chegar no Japão? É incrível como nossas brincadeiras de criança são uma metáfora das nossas dificuldades de adultos.
Sonhávamos tanto, não  tínhamos a noção das dificuldades.   
       Quando o céu  estava cinza era só  desenhar um Sol na calçada e estava resolvido o problema; o dia estava alegre novamente. Quando as paredes pareciam nos aprisionar era só desenhar portas, janelas e claro, as chaves. Encontrávamos saída onde só havia dificuldade. As portas nos levavam para mundos encantados, as janelas sempre davam pra um quintal  florido e com grama verdinha.  Quando a coisa apertava mesmo e não havia calçadas  ou paredes, a solução era cavar no chão um buraco tão grande que pudéssemos  entrar e nos esconder.
E hoje? Minha calçada não tem Sol, minha parede não tem portas e janelas imaginárias e não ouso sujar minhas mãos pra cavar um buraco no chão.  
       Todas as calçadas são tristes, e não encontro  um desenho sequer;  nenhuma marca mais das crianças criadoras do Sol. As minhas paredes são frias, claustrofobiantes e delimitam muito mais do que o meu espaço físico.  Meus pés não podem tocar o chão quanto mais eu me abaixar  para cavar com minhas unhas bem cuidadas.
      Crescemos e perdemos a capacidade de “inventar saídas” para as dificuldades como fazíamos quando éramos crianças. Quem me dera  acreditar mais uma vez que tudo que eu quiser que exista irá existir, mesmo que alguém diga; “se esse dia é  triste PODERÁ haver outros melhores”, “não adianta bater contra a parede”, “ao céu não chegará, do chão não passará”; mesmo assim,  desenhar  meu Sol, criar minhas portas e janelas imaginárias e cavar com as próprias mãos um buraco maior que eu.  
      Mesmo que ninguém acredite (nem mesmo EU), haverá  sempre uma forma de  se criar UMA SAÍDA.

POR NÃO PODER

Meu medo, meu cuidado
meu perigo
meu desejo desordenado
Teu sorriso
Depois da quarta noite, quinta
depois do desespero do sonho
teu olhar brinca

Cheguei; chegou; chegamos
Falei; falou; nos falamos
Amei, amou, nos amamos
Achei, achou; não nos encontramos



Perdida voz na sala
anelo
Perdido olhar no tempo
singelo

                                                                                      
Passei, passou; passamo
Chorei, chorou; choramos
Deixei, deixou; deixamos
Virei as costas, fui embora lentamente
 Mas lembrarei de te esquecer eternamente.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Recortes



 
Em uma noite nostálgica de muita conversa sobre o passado,  releitura de e-mails antigos e muita, muita música; uma mexeu comigo de uma forma diferente. Após ouvir “Último romance- Los Hermanos” os olhos deixaram escapar  o que era pra ficar guardado. E após explicar  pra um dos meus amigos o porquê da música me emocionar, ele me fez uma  sugestão e uma pergunta. “Você deveria se desprender do passado; por que você não se empenha em viver algo assim marcante com a pessoa que lhe acompanha agora?”. Enquanto a música rolava a pergunta me exigia uma resposta. E disparei logo uma pergunta resposta, “ é um problema quando temos muitos relacionamentos não é? As situações que vivemos podem não se repetir, mas nós gostaríamos de algo ao menos parecido.” Ele concordou.
          Não se trata de relembrar pessoas  e sim situações. No meu caso, ouvi alguém se declarar pra mim cantando a música e chorando, isso me marcou. A pessoa passou,  estou muito bem resolvido quanto a isso mas a situação ficou e é disso que eu sinto falta. Da sinceridade que desconhece o medo, da verdade que sai sem se importar se o retorno vai ser bom ou ruim, da vontade simples de deixar o sentimento aparecer pro outro, de desnudar a alma. 

          Infelizmente vamos recortando as situações, as pessoas, os sentimentos, os lugares e montando um mosaico com nossas  lembranças. Podemos até colar outras coisas por cima, mas basta apenas uma raspagem simples para as partes escondidas aparecerem. Fingir que vai começar algo novo do zero é se enganar, e achar que  as outras pessoas são quadros em branco que vamos preencher é muita pretensão. Ninguém é um quadro em branco, nenhuma colagem estará por cima para sempre.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

TALVEZ EU SEJA O ÚLTIMO ROMÂNTICO ( PRÓLOGO DAS CARTAS)

 
  Eu acho que estou mesmo  ficando velho, acabo de fazer 36 anos. Talvez para quem tem mais idade isso pareça uma piada, mas pra mim que a pouco tempo atrás só tinha 18 anos e pensava com insegurança em enfrentar as crises da vida adulta, é uma situação apavorante o passar do tempo. Se é que há alguém que não se exaspere com a passagem do tempo. Frequentemente o susto vem quando temos um marco  temporal, uma pessoa que seja  referência  ou até mesmo o velho álbum de retratos.
     Mas não quero falar  dos medos que o tempo traz e que vão se somando a outros que você já tinha com menos idade. Quero falar da percepção do que se acaba com o avançar dos dias. Do que devia ser perene mas é tão inconsistente que se desfaz no tempo como lágrimas na chuva. Muitos não vão concordar mas o romantismo está reduzido à gestos tão pontuais e fugidios que parecem ocorrer por mera formalidade. Eu continuo acreditando que esteja mesmo acabando.
     É impossível comparações, e não são comparações com o que eu vi dos outros somente, mas do que eu mesmo criei e vivi. A perspectiva do possível preenchimento é o que nos faz continuar. E sinceramente, eu acredito que o mundo que criei pra mim agora é que não comporta romantismo, é um problema mais de contingência. Sendo que faço mea culpa,  deixo de reclamar do saudosismo e  sem falar do que sinto falta nestes tempos de amor tipo fast-food , passo a falar  de tudo que já vivi.
     Portanto, invertendo a lógica do que venho escrevendo, falo do que já tive e não do que sinto falta.
     Já tive coragem de namorar na chuva, beijos e abraços  que muitas vezes são impedidos (pelos sem coragem) por que a chuva tá fria ou há a possibilidade de se  resfriar. Tive música, lugar, cheiro, cor, filme,  banda. Tive carta encontrada no bolso de minha bermuda, bilhete de amor escrito no meu caderno do cursinho pré -vestibular. Tive um beijo que vale mais que sexo,  um abraço daqueles que dá vontade de guardar dentro de um baú de lembranças. Tive peça de roupa guardada só pra lembrar o cheiro, tive brinco esquecido por querer só pra poder ter o pretexto de voltar pra pegar. Tive pele arranhada por unhas, e  marcas  no pescoço quando não podia  ter. Tive medo de perder, de nunca  mais encontrar outra pessoa igual. Tive crise de desespero em plena madrugada por achar que um dia eu não estaria mais com Ela. Tive livros  iniciados inspirados em alguém, mas nunca terminados porquê com o fim do romance  foi-se também a inspiração.
     E só foi possível  recuperar muitas  dessas lembranças porque  minha mãe guardou cadernos, cartas e cartões, fotos, objetos e livros meus desde que eu  me mudei para Salvador a 18 anos e que encontrei casualmente em minha última visita a minha cidade natal Montanha-ES. Um mergulho na minha curta existência mas que mostra que idade não garante que os melhores momentos ainda estão por vir. Talvez estejam mesmo, mas meu passado é de dar inveja à alguns poemas de Drummond sem dúvida.
     Passo então sob o título "CARTAS" a  revisitar meus amores e desamores e postar numerada das mais antigas até as mais recentes algumas das lembranças em que guardei registro. Juntando as lembranças  conservadas por minha mãe, junto com outras que eu mesmo preservei já  vivendo em Salvador-Ba. Rabiscos de poesias,  contos, e-mails  e claro, a identidade verdadeira não  revelada. Obrigado Mãe!

domingo, 23 de agosto de 2015

Eterno é o amor que não se concretiza.



      Hoje parei pra escutar “O Teatro Mágico” e lembrei do tempo em que eu passava em sua rua várias vezes ao dia só pra tentar  te ver. A música?  Ahh a música que me trouxe as lembranças foi “Nosso pequeno castelo”. Tempos engraçados onde meia palavra revelava um mundo. Quantas vezes eu não podia falar o que eu queria e você não podia entender o que eu queria dizer, para evitar complicações. “Me faça um gesto, me faça perto”, era o que eu queria mas era o  que não podia. Lembro de passar algumas mensagens  com uns temas nada com nada do que eu queria dizer, somente  pra puxar conversa. Estratégia mais que feia eu sei, ainda mais pra mim com meus 30 e poucos anos. Mas sabe o que diz a música não é? “Garotos como eu, sempre tão espertos, perto de uma mulher são só garotos”.
       Seguimos nosso faz de conta “não olhe agora, estou olhando pra você”, e nos disfarces dos olhares mantivemos muito mais do que uma simples paixão realizada mas não correspondida, era a certeza de que poderia ser recíproco. Nas poucas vezes que te abracei, te dei um beijo no rosto ou segurei sua mão, era como seu eu ganhasse o maior presente do mundo. “No nosso livro, a nossa história é faz de conta ou é faz acontecer?”. Para garantir que como os primeiros poetas do romantismo, o contato não estragasse uma inspiração perfeita... Nunca ninguém soube, nunca ninguém saberá. Nem mesmo eu e nem mesmo você.  E como disse Eça de Queiroz "eterno é o amor impossível,  os amores possíveis começam a morrer no dia em que se concretizam".

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Sobre alegria, intelectualidade, religião e amor!



Passei cinco anos viajando por uma terra desconhecida. Nela  encontrei algumas das melhores almas que poderiam se ligar à minha. Nos acorrentamos, criamos laços que são aqueles que vão durar para a vida inteira. Amigos, esses a quem nos afeiçoamos e de alguma forma  nós elegemos como “o refúgio, a fortaleza, a sabedoria ou a oportunidade de enlouquecer de vez em quando”. Pois quem não precisa de uma amizade que te desencaminhe vez ou outra?
           Nessa minha viagem, a três personalidades em especial eu me irmanei. Um que era meu par perfeito na intelectualidade; discutíamos no mais alto nível (levando em conta nosso nível intelectual), era um orgasmo mental as conversas; outro que era meu par perfeito nas crenças e convicções morais, neste eu encontrava força para vencer “os desafios do mundo”, pensávamos igual, sofríamos as mesmas agulhas na carne, tínhamos a mesma religião; e por fim um que era “a brincadeira em pessoa”  a diversão encarnada em gente, irônico, ácido e sem medo de expressar opinião, esse era meu “Young brother” e me salvou em momentos decisivos.
          Por fim encontrei o amor e a vida estava quase perfeita, com quase tudo no seu devido lugar. Mas, é engraçado como um sentimento sem direção pode afetar na alegria, intelectualidade e religião. Primeiro amor e intelectualidade se tornaram cúmplices, amigos tanto e de tamanha forma que eu fui hostilizado e a intelectualidade se afastou. Depois religião que deixando também de lado os laços sagrados que eu não ousei quebrar, se afeiçoou à amor e lá se foi mais uma amizade. Por fim alegria que por tamanha ligação que havia comigo eu não imaginaria me trair, me fez triste e também preferiu o amor à amizade.
          No fim das contas restamos  só eu e o amor, que mesmo depois de tantas perdas permanece comigo ou talvez eu com ele. Sem intelectualidade, religião ou alegria!

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Quando o T do tédio é maior...




          Pode ser tédio. Deve ser isso mesmo, um  momento entediante que passa assim que você achar uma coisa interessante  pra se dedicar. Mas e se não passar? E se a coisa nova que eu arranjei pra fazer pra tentar me dar um novo alento também se tornar entediante?
Sei lá, algumas vezes eu acho que essa experiência de viver, socializar, cumprir papéis, cumprir regras é complicado demais pra minha cabeça simples. Ou talvez minha cabeça seja complicada demais pra entender essas coisas simples da vida. Talvez seja melhor só seguir sem querer achar um sentido em tudo.
          Quantas vezes sua voz não acha um ouvido onde realmente faça sentido? Isso sim é complicado. Conversar com alguém que não te entende é pior do que ficar calado. Pelo menos calado você não cria a expectativa da reciprocidade. E justamente no momento em que você se acha uma figura estranha no mundo, é que as coisas perdem o sentido. Não tem sentido ler, ver tv, sair pra beber. Ahhhh sobra uma coisa que é legal; dançar, isso sim ainda vale a pena. Só basta ter alguém disposto à dançar uma noite toda  ouvindo Flávio José e o mundo tá salvo.
          Mas enquanto minha fala continua atravessada nos ouvidos  de quem me escuta agora,  enquanto  não encontro ninguém pra dançar a noite inteira; vou assistir um episódio de  “Friends” que me faz dar risada. E rir, mesmo que sozinho, ainda é um ótimo remédio.
Deibith Brito.